Rastreio de Lesões Mamárias
O câncer da mama designa a
neoplasia mais comum na população feminina, compreendendo cerca de 16% de todos
os tumores da mulher. A diminuição da mortalidade está intimamente relacionada
com a detecção precoce de doenças mamárias. O Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por
Imagem (CBR) recomenda, por meio da Comissão Nacional de Mamografia,
rastreamento mamográfico anual para todas as mulheres entre 40 e 69 anos de
idade e de forma individualizada após essa faixa etária.
A mamografia é uma técnica de
diagnóstico que tem como principal objetivo a produção de imagens detalhadas
das estruturas internas da mama, de modo a possibilitar o diagnóstico precoce.
O estudo mamográfico é composto pela aquisição de duas incidências básicas, a
crânio-caudal e a oblíqua mediolateral. Outras incidências complementares
poderão ser efetuadas quando se detecta uma lesão suspeita.
No diagnóstico de lesões
mamárias, a ultrassonografia (US) modo-B mostra-se bastante relevante como
complemento de outras modalidades diagnósticas. Mostra-se como um estudo de
rastreamento de doenças mamárias para as mulheres mais jovens que apresentam
mamas densas à mamografia. A técnica de aquisição varia entre pacientes, a
localização da lesão, as indicações e o tipo da lesão. Os achados
ultrassonográficos devem ser documentados em dois planos ortogonais
(longitudinal e transversal).
A elastografia mostra-se como
uma técnica promissora no controle evolutivo das lesões suspeitas em idades
mais avançadas e em intervalos do controle mamográfico, permitindo orientar o
diagnóstico e prognóstico. Nas idades jovens, esta técnica possibilita um
acréscimo de informação ao diagnóstico das lesões sólidas, permitindo evitar
uma biópsia desnecessária. Mostra-se uma técnica complementar no diagnóstico da
doença mamária, sendo associada à US modo-B. É um método que permite
quantificar o grau de elasticidade dos tecidos mediante a realização de pressão
sobre estes.
A biópsia mamária define-se
como um procedimento invasivo que permite a confirmação da detecção de lesões
mamárias. Esta técnica recorre à coleta de fragmentos de tecido mamário, os
quais são analisados histologicamente. O acompanhamento após este procedimento
depende do tipo de achado histológico.
A classificação dos achados
mamográficos é composta por sete categorias, as quais estão diretamente
relacionadas com as recomendações de conduta. Essa classificação foi
padronizada em todo o mundo por médicos especialistas da área e se chama
classificação BI-RADS®:
·
Categoria
0 - utilizada em casos cujo resultado está dependente da análise comparativa
com o exame anterior ou em reconvocações por erro técnico. Poderá ser também
utilizada nos casos que necessitam de avaliação adicional por US ou por
ressonância magnética (RM), para esclarecimento diagnóstico.
·
Categoria
1 – Refere-se a um exame negativo para malignidade, não havendo evidência de
alterações focais radiográficas significativas.
·
Categoria
2 –achados mamográficos são caracteristicamente benignos.
·
Categoria
3 – Achados mamográficos com probabilidade elevada de serem benignos, com valor
preditivo positivo (VPP) igual ou superior a 98%.
·
Categoria
4 – Lesões que apresentam probabilidade de serem malignas, embora não tenham
características típicas de carcinoma.
·
Categoria
5 – Lesões que apresentam probabilidade de malignidade elevada (VPP > 95%).
·
Categoria
6 – Lesões cuja malignidade já foi anteriormente confirmada por estudo
histológico e que não tenham sido submetidas a qualquer tratamento definitivo.
A avaliação das imagens de US modo-B, à semelhança da mamografia, é
realizada de acordo com a classificação BI-RADS. Já as imagens obtidas pela
elastografia, nomeadamente as propriedades elásticas dos tecidos, são
analisadas qualitativamente segundo a escala de elasticidade de Ueno, sendo
esta composta por cinco níveis. A elastografia apresenta boa sensibilidade e
alta especificidade diagnósticas na diferenciação entre as lesões benignas e as
malignas, podendo assim reduzir-se o número de biópsias mamárias realizadas
atualmente. Embora os métodos em estudo não possuam iguais sensibilidades e
especificidades para as mesmas lesões, a sua conjugação poderá melhorar
claramente a acuidade diagnóstica das lesões mamárias.
Paciente
de 55 anos de idade, sem antecedentes de câncer da mama. Foi detectada uma
densidade assimétrica na mama esquerda no ano de 2011, tendo esta aumentado de
dimensões recentemente. Realizou mamografia de rastreio, na qual foi detectada
a alteração ao nível do tecido mamário anteriormente referida. Realizou-se nova
mamografia em incidência oblíqua mediolateral esquerda (a), na qual foi
confirmado um nódulo irregular, hiperdenso e de contornos espiculados no
quadrante superior externo, classificado em BI-RADS 4c. No estudo ecográfico
(b) é demonstrada uma área hipodensa, irregular, de contornos indistintos,
causando um cone de sombra acústica, classificada como BI-RADS 4c. A
elastografia (c) identificou uma lesão com ausência de elasticidade, totalmente
sombreada a azul, correspondendo ao nível 4 da escala de Ueno. O resultado
histopatológico revelou a presença de um carcinoma ductal invasivo.
Paciente de 56 anos de idade, com antecedentes
de mastite recente no quadrante superior externo direito. Realizou mamografia
composta pelas incidências crânio-caudal (a) e oblíqua mediolateral (b), as
quais revelaram uma região hiperdensa, irregular e de contornos parcialmente
obscurecidos, classificada como BI-RADS 4b. No estudo ecográfico (c) é
identificada uma área hipodensa, ovoide, de contornos parcialmente
obscurecidos, causando sombra acústica, classificada como BI-RADS 3. A
elastografia (d) demonstrou uma lesão fundamentalmente elástica, com algumas
zonas de ausência de elasticidade, classificada como nível 2 da escala de Ueno.
O resultado histopatológico revelou a presença de tecido fibroadiposo.
1. Pardal RC et al. Rastreio de lesões mamárias: estudo comparativo. Radiol Bras. 2013 Jul/Ago;46(4):214–220
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